Escrevi um livro de PHP e MySQL

Há pouco mais de dois meses foi lançado o meu livro de PHP e MySQL pela Casa do Código. E agora estou escrevendo este post para contar como foi este experiência para mim e o que eu aprendi com ela.

Livro PHP e MySQL

Tudo começou em maio de 2013 quando o Caio (http://twitter.com/crp_underground) estava nos momentos finais da escrita do livro Aplicações web real-time com Node.js e acabou me indicando para o pessoal da Casa do Código para escrever um livro também. A ideia que o Caio teve foi a de transformar as Aulas de Python aqui do blog em um livro.

Depois disso eu entrei em contato com o Paulo da Casa do Código/Caelum e trocamos algumas ideias sobre o livro.

A minha ideia era mesmo a de escrever um livro para iniciantes em programação e focar no Python como primeira linguagem. Mas o meu dia a dia é com PHP e eu ainda me sinto mais confortável com esta linguagem.

E assim ficou decidido que o livro seria mesmo sobre PHP. E como o MySQL anda sempre junto do PHP em diversas aplicações para a web, ele acabou entrando no escopo do livro também.

O começo

Começar a escrever foi uma parte bem complicada. Enquanto estamos apenas imaginando como seria o livro, tudo parece bastante simples, mas na hora de finalmente começar a escrever parece que vem um branco e qualquer palavra que você escolhe parece ruim.

Por isso em vez de escrever comecei pelo melhor modo que foi o planejamento dos capítulos. Com a ideia de cada capítulo planejada já ficou bem mais fácil para começar.

O livro impresso

A ideia recomendada pelo pessoal da Casa do Código é a de reservar cerca de uma hora por dia para escrever. E como eu faço uma bela viagem de ônibus de cerca de 2h30 todos os dias da semana eu pensei em aproveitar este tempo para escrever. Eu só não contava que eu teria pequenos problemas de passar mal ao tentar usar um netbook no ônibus… Com isso meu plano de escrever no ônibus foi para o espaço. Hoje em dia eu já consigo usar um netbook por um certo tempo sem que meu estômago queira sair para passear, mas durante a escrita do livro não deu certo.

Então eu passei a usar pequenas pausas de 15 minutos no trabalho para escrever. Com isso a escrita de 1h por dia passou para apenas 15 minutos. Então era preciso usar muito bem os 15 minutos. O problema é que escrever não é exatamente um trabalho braçal e o nosso intelecto nem sempre está disposto à colaborar. Teve alguns dias em casa em que eu ficava encarando a tela por um bom tempo antes de a frase certa aparecer.

E aos poucos o livro foi tomando forma.

A ideia de escrever todos os dias por mais ou menos uma hora é realmente muito boa pois dessa maneira o trabalho ganha forma rapidamente e ainda é possível manter o estilo de escrita.

Eu passei por alguns períodos de não escrita, as vezes por mais de uma semana. E isso acabava quebrando o ritmo e o estilo. Diversas vezes eu me peguei lendo capítulos anteriores e tendo que alterar alguns trechos pois eu não achava mais que eles combinavam com os capítulos mais novos.

Por isso o trabalho de revisão é muito importante.

O meio

Eu tinha uma meta que eu mesmo coloquei para o número de páginas do livro impresso: 150. Não sei bem como eu cheguei a este número, mas eu não queria oferecer um livro curto demais e nem denso demais.

Por isso adotei um estilo que eu gosto bastante que é a explicação detalhada e de mais de uma forma. Acho que este tipo de estilo é muito legal para quem está aprendendo algo novo, pois é possível entender com uma das diferentes explicações.

Claro que eu sabia que este estilo não agradaria a todos, mas acho que a escolha foi uma boa decisão para o livro.

Com cerca de 25% do livro concluído eu passei a escrever usando praticamente qualquer espaço que eu encontrava em minha agenda. Até mesmo durante viagens de carro eu tentava escrever um pouco enquando não estava dirigindo.

Acho que o mais complicado foi ter que recusar os convites para almoços e jantares com a família no final de semana. Mas, como já diz o ditado: Quer moleza? Então senta no pudim. Escrever um livro é difícil e é necessário bastante dedicação.

Mesmo nos momentos em que você não está escrevendo, você está pensando em como continuar a escrita. Por isso é importante manter o ritmo.

O final

Depois que lançamos o beta, com cerca de 60% concluído, eu tinha uma meta para finalizar o livro em um mês. Seria tipo a corrida final. Levou cerca cinco meses para escrever 60% do livro e eu queria escrever os outros 40% em apenas um mês.

O livro impresso

Mas desta vez eu já estava mais acostumado ao ritmo e aumentei o tempo de escrita. Teve final de semana que eu trabalhei no livro por mais de seis horas seguidas. E trabalhar no livro não necessariamente significa escrever e escrever. Muitas horas foram de revisão e de adequação do conteúdo para ficar mais uniforme.

Acabou que eu consegui cumprir o prazo de um mês e ainda coloquei trechos que não estavam no planejamento, mas que se mostraram essenciais.

Nesse momento surgiram algumas crises em minha cabeça do tipo “O conteúdo não está bom”, “Ninguém vai querer esse livro”, “Essa parte ficou complicada”, “Essa parte ficou muito simples”, etc. Claro que no geral era a minha cabeça inventando coisas após o cansaço de meses de escrita.

Nessa hora é preciso confiar no seu trabalho e nas pessoas que estão ajudando. Sem isso o livro não vai sair de suas mãos para ajudar aqueles que você queria ajudar com a escrita do livro.

O processo de escrita (mais técnico)

A forma de escrever para a Casa do Código é sensacional. Usamos repositórios no GitHub e escrevemos em arquivos de texto puro usando uma sintaxe parecida com o Markdown, chamada Tubaína. Sim, até o nome é muito legal.

Eu já tinha experimentado este tipo de escrita em wikis e em um projeto que eu fiz e acho que ele é legal pois deixa o escritor focado no conteúdo e não na apresentação.

Então o meu processo de escrita começava por um fetch no repositório, já que eu usava mais de uma máquina para escrever, e então eu abria o Vim e começava a escrever.

Não se preocupar com a formatação do texto durante a escrita te ajuda a manter o foco. O importante é o conteúdo. E com um texto bem estruturado a aplicação do estilo fica simples.

Após os commits para o GitHub entra em ação o Jenkins que faz a “compilação” do livro para PDF e com isso temos um preview do resultado final.

Ou seja, o processo de escrita é com Markdown, Git e GitHub e uma espécie de integração contínua usando o Jenkins! Boas práticas para o fluxo de trabalho de desenvolvimento aplicado à escrita de livros! Sensacional ;)

Conclusão e o futuro

No geral a escrita do livro foi uma experiência muito legal e eu fiquei muito satisfeito com o resultado. Claro que eu mudaria uma coisinha aqui e outra ali, mas se entrar nisso com certeza vai rolar um laço infinito de correções e aperfeiçoamentos.

Alguns livros impressos

A minha ideia agora é escrever um livro para avançar no assunto e mostrar o PHP como a ferramenta séria que ele está se tornando e as ferramentas mais atuais que estão mudando o cenário do PHP para melhor. Agora é só criar coragem e começar um novo processo de escrita =)

Para os interessados, o livro pode ser adquirido no site da Casa do Código.

InFog


Evaldo Junior

Desenvolvedor web, palestrante, escritor e usuário e contribuidor do Software Livre.

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